Da bancada ao consultório: minha jornada entre a Farmácia Clínica e a Estética Regenerativa
Como a ciência, a epigenética e o cuidado humano se encontraram na construção de uma nova forma de fazer saúde.
Por Dra. Krisna Ridzi Farmacêutica Clínica e Esteta — CRF-RJ 32428 | RQE 0706-45
Clínica Krisna Ridzi – Saúde Integrativa & Estética Regenerativa | Petrópolis – RJ
O ponto de partida: um desejo antigo de unir ciência e cuidado
Nada na minha trajetória aconteceu por acaso.
Antes de me tornar farmacêutica, minha primeira formação foi em Direito — e durante anos, a lógica e a legislação fizeram parte do meu dia a dia.
Mas, mesmo imersa no mundo jurídico, eu sabia: minha verdadeira vocação estava na saúde.
Em 2018, decidi ouvir esse chamado e iniciei a graduação em Farmácia.
Foi o início de uma jornada que uniu ciência, ética, qualidade e humanidade.
“O que eu buscava não era uma nova profissão, e sim um novo propósito: entender a vida sob a ótica bioquímica e humana.”
Quando a microbiota me mostrou o poder da interconexão
Durante a graduação, tive o privilégio de participar de um projeto de biotecnologia microbiana sob indicação da Prof.ª Fernanda Peixoto. O projeto era, e ainda é, conduzido pelo Pesquisador microbiologista Rafael Peixoto.
O projeto é sobre o desenvolvimento de consórcio microbiano com impacto sobre obesidade e depressão.
Minha parte no projeto era a regulatória — mas, à medida que estudava as interações entre microbiota e cérebro, algo mudou:
Percebi o quanto a bioquímica influenciava comportamento, humor, imunidade e até envelhecimento.
Foi ali que nasceu minha primeira paixão na Farmácia: entender o corpo como uma rede viva e interligada, e não como um conjunto de partes isoladas.
O início nem sempre é fácil: a virada inesperada
Quando me formei, vieram os primeiros “nãos”.
Fiz processos seletivos em farmácias, laboratórios, indústrias — e nenhum deu certo.
Até que surgiu uma oportunidade completamente fora do roteiro: uma dermatologista que iniciava na estética me convidou para desenvolver peelings e formulações personalizadas. Aceitei.
E ali começou um novo capítulo: o encontro entre farmacologia, pele e resultado clínico real.
Iniciei minha pós-graduação em Estética, e mergulhei em cursos com Nelson Maurício, Lucas Portilho, Matheus Stuecker, Carlos Varella e Márcio Guidoni.
Viajei pelo Brasil, conheci mestres, fiz grandes amigos e descobri que a Farmácia podia transformar o corpo e a autoestima com base científica.
A qualidade que salva vidas: meu mergulho nas Terapias Avançadas
Mesmo apaixonada pela estética, algo ainda me pulava para o campo técnico e regulatório.
Foi assim que entrei para o Laboratório de Medicina Regenerativa da UNIFASE/FMP, um Centro de Processamento de Células Tronco Humanas especializado em Terapias Avançadas.
Entrei como Analista de Qualidade — e logo me vi implantando um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) completo.
Estudei as RDCs da ANVISA, as Instruções Normativas, as Normas ISO e os guias da ICH, especialmente o ICH Q9 e Q10 – Pharmaceutical Quality System, que define os pilares da Qualidade Farmacêutica moderna:
Liderança ativa e responsabilidade da direção
Gestão de recursos e conhecimento
Controle do ciclo de vida do produto
Melhoria contínua
Gestão de Risco de Qualidade
Com a adesão do Brasil ao PIC/S em 2021, passamos a seguir padrões internacionais de Boas Práticas de Fabricação (BPF), aplicáveis também ao processamento de células humanas.
Foi ali que entendi que Qualidade não é burocracia — é compromisso com a vida.
“Garantir qualidade é garantir que cada célula processada tenha a mesma chance de salvar uma vida.”
Células, ciência e propósito
No CPC, processávamos células humanas autólogas — retiradas do próprio paciente, cultivadas e devolvidas a ele como medicamento regenerativo.
Trabalhávamos com fragmentos do septo nasal, isolando e cultivando células condroprogenitoras, submetendo-as a rigorosos controles microbiológicos e morfológicos.
Aprendi que o farmacêutico da qualidade é um cuidador invisível — longe do paciente, mas essencial para sua segurança.
“A qualidade não é um setor. É uma cultura, uma mentalidade, uma forma de respirar dentro do laboratório.”
Do laboratório ao consultório: onde a ciência encontrou o olhar humano
Durante um tempo, vivi entre dois mundos: o das salas limpas e protocolos rígidos, e o do consultório com pessoas reais e histórias únicas.
E percebi que esses mundos não eram opostos — eram complementares.
Comecei a aplicar na estética os mesmos conceitos da Gestão da Qualidade: rastreabilidade, padronização, segurança e ética.
E, da clínica, levei para a ciência o olhar humano, a empatia e o propósito.
“A qualidade e o cuidado não são opostos — são complementares.”
Farmácia Clínica, Epigenética e Estética Regenerativa: a tríade da nova saúde
A busca por integração me levou à pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica.
Queria entender a fisiologia por trás de cada pele, cada sintoma e cada resultado.
Foi nesse ponto que conheci o poder da Epigenética — a ciência que mostra que nossos genes não são destino, mas resposta ao ambiente, ao estilo de vida e às emoções.
Hoje, aplico esses princípios na prática clínica:
Ativos orais e tópicos que modulam vias bioquímicas de regeneração,
Protocolos que estimulam a autorreparação celular,
Leitura funcional dos exames laboratoriais, observando marcadores inflamatórios, hormonais, hepáticos e intestinais,
Testes genéticos com painéis elaborados por mim, como via acertiva de modulação metabólica.
“Eu não trato manchas, rugas ou flacidez. Eu trato o terreno biológico que gerou tudo isso.”
”Essa é a base da Farmácia Regenerativa: usar a ciência para restaurar função e não apenas aparência.”
Os desafios de ser técnica, clínica e comunicadora
No empreendedorismo em saúde, o conhecimento é só o primeiro passo.
O resto é coragem, comunicação e constância.
Aprendi que o desafio não está em vender procedimentos, mas em educar o paciente.
Mostrar que estética é ciência, que cada pele tem seu tempo e que a beleza verdadeira nasce de dentro pra fora.
E no meio desse caminho, descobri que o marketing é o calcanhar de Aquiles de quem faz com propósito — mas também a ponte entre o que fazemos e quem precisa ouvir.
“Ser clínica com a cabeça de pesquisadora e o coração de quem cuida — esse é o verdadeiro equilíbrio.”
Hoje: a ciência continua, mas com alma
Na minha clínica, aplico tudo o que aprendi: da cultura de células à cultura do cuidado.
Trabalho com protocolos funcionais, personalizados e regenerativos, que respeitam a biologia e o tempo de cada paciente.
Acredito que a Farmácia do futuro é integrativa, regenerativa e humana.
“A ciência me ensinou o método. A estética me ensinou o olhar. Mas foi o paciente que me ensinou o propósito.”

